Um fio da memória foi solto ao ver uma antiga foto de capa da revista Amiga com Lucia Alves, Tereza Sodré e Paulo Goulart no Facebook que me levou prá muito longe. Fui a primeira repórter contratada para esta revista. Na verdade tudo começou alguns meses antes quando, a convite do Moyses Fuks, me demiti da TV Continental para ir trabalhar na Bloch Editores. Eles iam lançar uma revista semanal de artistas – ainda não chamavam de celebridades – e enquanto esperava, fui trabalhar na Sétimo Céu. Publicação mensal, que além de reportagens com artistas, produzia fotonovelas coloridas também com celebridades. Alberto Maduar, diretor da revista, fazia as vezes de diretor de fotonovela e nestas ocasiões usava um colete como se estivesse dirigindo um filme em Hollywood. Nilton Ricardo era fotógrafo, Leonel Kaz redator, Áureo Abílio diretor de arte e ainda tinha um produtor que não recordo o nome. Saída da Tijuca para o “grand monde” eu ficava fascinada quando começavam literalmente a montar as fotonovelas. Chegavam do laboratório rolos de negativos tamanho 6X6cm que eram espalhados sob uma mesa com tampa de vidro e luz interior. Ali selecionavam as fotos de acordo com os diálogos que entravam como “balãozinho” sob a cabeça dos artistas…. Era esquema de super produção, com locação para as fotos e tinham até figurantes de fotonovela…
Na redação de Sétimo Céu conheci Aninha (Ana Maria Farias) que me ensinou a fazer promoção da revista nas rádios e programas de TV. Aninha era secretária, fazia de tudo e quando a revista ia para as bancas ela ia para as rádios e programas de auditório na TV levando exemplares para distribuir aos comunicadores. Com isso eles falavam da revista, um merchandising que acontecia pela simpatia e a relação por ela desenvolvida com aquelas pessoas. Aninha me abriu boas portas juntos às gravadoras e artistas, uma querida amiga.
Deixei a Sétimo Céu quando a revista Amiga dirigida por Moyses Weltman (1932–1985) se preparava para ser lançada. Quem tiver os primeiros números da revista poderá ler nos créditos das reportagens não apenas Léa Penteado, mas também Ceres Viana ou Léa Ceres, que também sou eu… Escrevi até horóscopo. A equipe era muito pequena. Luiz Augusto Chabassus era redator e só meses depois chegaram Lucia Rito, José Luiz Sombra, Alexandra Bertola, Adriana Monteiro vindos de um curso para novos jornalistas que a Bloch realizava anualmente. Weltman era um veterano do rádio onde escreveu novelas entre elas “Jerônimo, o Herói do Sertão” e também com experiência em novelas para a TV. Vinha com o trunfo de ter sido diretor da Radiolândia, primórdio das revistas de famosos, concorrente da Revista do Rádio. Sempre vestia camisa social impecavelmente branca e engomada, foi um grande professor prá mim. A revista Amiga nasceu inspirada em uma revista italiana chamada Amica. Até o tamanho era igual, um pouco maior do que as publicações daquele tempo, alguma coisa como a Caras de hoje. O conteúdo era composto de fotonovela italiana e notícias do meio artístico. Toda a revista era em preto e branco. Aos poucos as fotonovelas foram diminuindo e aumentando as páginas de reportagens.
Fui repórter e depois colunista da Amiga, assinando como Leleca Novidade, apelido que ganhei do Carlos Imperial. Minha formação profissional começou atrás daquelas mesas de jacarandá em um sofisticado edifício da Praia do Russel onde no restaurante comia-se com talheres de prata, usava-se guardanapo de linho, bebia-se água em copos bico de jaca cercada de obras de arte. No vai e vem com a família Bloch, estive um tempo na Manchete em São Paulo e voltei ao Rio para dirigir Sétimo Céu, a revista onde eu comecei. Eu tinha 26 anos e os tempos já eram outros. A acirrada disputa entre as revistas Amiga e Intervalo pegava fogo. Sétimo Céu estava fora desta briga, era quinzenal, na verdade aparecia em duas versões, uma com um coraçãozinho “Série Amor”, mas era tudo a mesma coisa. Seguindo a tendência das revistas europeias os “publishers” Moyses Fuks e Roberto Barreira pediam que seguisse o estilo da revista francesa, creio que o nome era “7 Jours”, onde em muitas reportagens os artistas apareciam completamente diferentes do que em seus shows e na vida real. Transformavam-se em personagens, como Silvie Vartan e Johnny Hollyday encarnando Marco Antonio e Cleópatra. Fazer isso com Vanusa e Antonio Marcos era uma missão impossível. Mas tínhamos que produzir ao menos a capa e uma grande reportagem e/ou fotonovela em estilo próximo. A Bloch tinha um belíssimo estúdio na Rua Frei Caneca, mas não era fácil levar um artista para passar uma tarde vestido de padre ou duelando como lutadores romanos como fizeram Wanderley Cardoso e Jerry Adriani. Não havia photoshop e as produções eram complicadas, mas sempre muito divertidas… Trabalho de maravilhosos profissionais. Revendo as fotos de tantas capas encontradas nos sites http://arquivoderevistas.blogspot.com.br e http://revistaamiga-novelas.blogspot.com.br passou uma fotonovela da minha vida… Este fio da memória foi solto ao ver uma antiga foto de capa da revista Amiga com Lucia Alves, Tereza Sodré e Paulo Goulart no Facebook que me levou prá muito longe.
Em tempo: prá matar as saudades fiz um álbum de fotos das capas de revista que recolhi na internet e está neste endereço https://www.facebook.com/media/set/?set=a.4667225518942.259778.1242664499&type=3&l=045a8dea11
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